O movimento regional “ABC Para Onde Vamos?”, promovido pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC em parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico Grande ABC, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), a Agência Norueguesa para Cooperação e Intercâmbio (Norec) e a Universidade Metropolitana, elaborou uma carta-compromisso em defesa da Represa Billings, que completará 100 anos em 27 de março.
O documento foi apresentado na sexta-feira (21/3), na sede do Consórcio ABC, em Santo André, durante um evento que discutiu o futuro do reservatório e propostas para sua proteção e preservação. A carta recomenda a implementação de políticas públicas, programas e projetos em sete áreas prioritárias: Proteção e Recuperação Ambiental; Saneamento e Controle da Poluição; Inclusão e Participação das Comunidades; Educação e Sensibilização Ambiental; Incentivo ao Ecoturismo e Sustentabilidade; Gestão; e Fortalecimento do Consórcio ABC como órgão regional de governança ambiental.
Participaram do evento a secretária municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal de São Bernardo, Ruth Cristina Ramos, representando o prefeito e presidente do Consórcio ABC, Marcelo Lima; a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da USCS, Maria do Carmo Romeiro; o professor da USCS e coordenador da iniciativa “ABC Para Onde Vamos?”, Daniel Vaz; e a coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH) da USCS, professora Marta Marcondes.

O Secretário Executivo do Consórcio ABC e presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico, Aroaldo da Silva, disse que o próximo passo é encaminhar o documento para assinatura da Assembleia Geral de Prefeitos, agendada para 28 de março. “Hoje surge aqui um compromisso social em defesa da Represa Billings, que abastece cerca de 8 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Precisamos unir esforços para preservar esse importante recurso hídrico”, afirmou Aroaldo.
Ruth Cristina, Secretária Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal de São Bernardo do Campo, destacou a importância do Consórcio ABC e ressaltou que a união dos prefeitos nesse momento reforça a relevância do compromisso com as mudanças climáticas e a preservação da Represa Billings: “O Brasil abriga 12% de toda a água doce do planeta, e a demanda por esse recurso segue aumentando. Estima-se que, nas últimas décadas, o consumo de água cresceu 80% e deve aumentar mais 25% nos próximos anos. Para alcançar a universalização do acesso à água, esse consumo pode crescer até 40%, o que demonstra a necessidade de um planejamento eficaz para o futuro. As mudanças climáticas impactam diretamente esse cenário. São Bernardo do Campo, por exemplo, já enfrentou crises hídricas devido ao alto consumo. Diante desse panorama, devemos refletir sobre o privilégio que temos ao contar com a Represa Billings como patrimônio. No entanto, muitas pessoas, especialmente as novas gerações, desconhecem sua origem e importância. Está na hora de firmarmos um pacto social. A assinatura desta carta-compromisso pelo Consórcio ABC é um passo fundamental para garantir a proteção da Billings. Precisamos sair deste encontro com a certeza de que não vamos desistir. É possível preservar a represa, melhorar sua qualidade e, ao mesmo tempo, garantir dignidade às comunidades que vivem ao seu redor. Esse é um esforço coletivo que exige compromisso, trabalho contínuo e determinação para avançarmos juntos.”, finalizou.
Durante o encontro, também foi definida uma agenda de ações para os próximos meses em comemoração aos 100 anos da Billings. Entre as iniciativas, destaca-se o lançamento de um projeto de sinalização visual com alertas para a proteção das áreas de manancial, financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), no valor de R$ 1,9 milhão. Além disso, estão programados um seminário sobre mudanças climáticas e um evento preparatório para a COP 30, cúpula climática da ONU, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
Daniel Vaz, professor da USCS e coordenador da iniciativa “ABC Para Onde Vamos?” ressaltou que o centenário da Represa Billings tem dois aspectos fundamentais: valorizar o patrimônio ambiental da região e alertar sobre a necessidade de preservação. “A Billings é essencial para a nossa região, mas enfrenta problemas graves, como despejo de esgoto sem tratamento e falta de cuidado com os resíduos. Em um cenário de mudanças climáticas, ter um reservatório de água é uma segurança para enfrentar os desafios futuros. Precisamos olhar para a nossa região e garantir que não percamos essa riqueza hídrica”, alertou.
A professora Marta Marcondes, coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH) da USCS, que lidera um estudo de monitoramento da qualidade da água na Billings desde 2015, reforçou a gravidade da situação. Segundo ela, 10% da área monitorada apresenta índices de qualidade da água extremamente baixos, indicando a presença de esgoto despejado diretamente no reservatório. Além disso, 30% está em condição ruim, 40% regular e apenas 20% é considerada boa. “Esses números são preocupantes. Precisamos mudar essa realidade e garantir que a Represa Billings continue sendo uma fonte de água potável e saudável para a população”, afirmou a pesquisadora. Ela também destacou como o planejamento urbano pode contribuir para a proteção dos mananciais na região: “Planejar o espaço urbano é essencial para garantir habitação adequada, infraestrutura, saneamento e preservação ambiental. No entanto, muitas áreas da região do ABC e do entorno do reservatório são ocupadas de forma irregular. Um planejamento bem estruturado facilita a realocação de pessoas que vivem em áreas frágeis, permitindo que esses espaços sejam recuperados pelo poder público, por empresas e pela sociedade civil. Além disso, a urbanização adequada melhora a qualidade de vida da população e contribui para a proteção dos mananciais. Para isso, é fundamental que as secretarias municipais trabalhem de forma integrada, identificando as principais necessidades e definindo, em conjunto, as melhores estratégias. Afinal, os desafios ambientais não respeitam fronteiras municipais, o que torna o debate regionalizado ainda mais necessário e urgente.”, destacou
O encontro também contou com a participação de representantes das secretarias municipais de Meio Ambiente, universidades, pesquisadores, vereadores e membros da sociedade civil organizada, reforçando a importância da união de esforços para a preservação desse recurso hídrico fundamental para a região do Grande ABC.
História e importância da Represa Billings
Você sabia que a Represa Billings não é um lago natural? Ela foi construída para ser um reservatório para geração de energia hidrelétrica. Na década de 1920, a cidade de São Paulo passou por um intenso processo de industrialização, levando ao aumento populacional. Esse crescimento, aliado a uma forte estiagem entre 1924 e 1925, reduziu em cerca de 30% o fornecimento de energia elétrica.

Nesse cenário, a companhia The São Paulo Railway Light & Power, empresa canadense que detinha a concessão do sistema de energia elétrica no Brasil desde 1899, buscou novas estratégias para garantir o abastecimento de energia. Foi nessa época que o engenheiro Asa White Kenney Billings iniciou o estudo do “Projeto da Serra”, que tinha como objetivo aproveitar o desnível da Serra do Mar para geração de energia elétrica em Cubatão.
A represa recebeu seu nome em homenagem ao engenheiro Asa White Kenney Billings, essencial para sua construção. Além disso, a palavra “represa” em português também significa “barragem”.

A Represa Billings é um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo. Ela é responsável por 11% da produção de água para abastecimento público na região.

Na região do Grande ABC, o turismo náutico sobrevive nas águas da Represa Billings, especialmente em São Bernardo do Campo. Na Prainha do Riacho Grande, restaurantes flutuantes e passeios de lancha geram renda para a população local. O local também é utilizado para esportes náuticos, como caiaque e jet-ski, sendo uma opção de lazer nos finais de semana.
Entre as décadas de 1950 e 1960, o maior potencial turístico da Billings estava em Diadema, onde ocorriam competições de vela e a tradicional procissão de Nossa Senhora dos Navegantes. Na época, a região era conhecida como a “Suíça brasileira” devido ao seu clima e era frequentada por artistas e grandes empresários, o que levou ao nome do bairro Eldorado.

Medidas para a preservação da Billings
Para garantir a conservação da represa, é essencial adotar medidas como:
- Não jogar lixo no chão, pois ele pode ser transportado pelo vento ou chuva e acabar poluindo a represa;
- Não despejar esgoto doméstico, lixo e outros contaminantes nos corpos d’água.

- Com informações do Consórcio Intermunicipal Grande ABC