Histórica viagem de estudantes da USCS (IMES) ao Japão completa 30 anos

Por Yasmin Uwa – estudante do 4º semestre de Jornalismo da USCS

Em 1995, equipe de futebol da Associação Atlética da USCS realizou 10 jogos contra equipes japonesas

Há 30 anos, 22 estudantes do então IMES (Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul), atual USCS (Universidade de São Caetano do Sul), atravessaram o mundo para representar a instituição em uma experiência esportiva e cultural inédita.

Ao todo, a equipe de futebol da Associação Atlética disputou 10 partidas amistosas contra times universitários, amadores e profissionais japoneses, passando por 7 cidades, entre as quais Tóquio, Kurashiki e Okinawa.

Eduardo Costa, ex-aluno do curso de Administração, que viajou como integrante da Comissão Técnica, relembra essa trajetória. “Foi uma história de superação, marcada por expectativas, dificuldades e um intenso aprendizado coletivo”, afirma, destacando que o planejamento para a aventura começou muito tempo antes do embarque.

A ideia surgiu de uma conversa entre dois estudantes ligados à Associação Atlética. “Durante um treino, o Reinaldo Pereira, que todos chamávamos de Amaral, me perguntou se seria possível organizarmos uma viagem para o Japão. Eu fiquei com aquilo na cabeça e fui falar com meus pais”, conta Ernesto Yamashiro, conhecido como Shiro, cuja família tinha uma agência de viagens especializada em excursões ao Japão.

Importante lembrar que, na época, o Japão estava investindo muito no futebol, contando com diversos jogadores brasileiros em sua liga principal. O mais famoso deles, Zico, que até 1994 jogava no Kashima Antlers. Além disso, o Brasil acabara de se tornar campeão da Copa do Mundo, o que reforçava o futebol brasileiro como referência mundial.  

Os pais de Shiro gostaram da ideia e prepararam um orçamento e um roteiro de viagem. “Após uma conversa com o professor Emédio Bonjardim e o pessoal da Atlética, a ideia começou a tomar forma. Quatro meses depois, começamos efetivamente a planejar a viagem”, completa Shiro.  

Para viabilizar a ideia, o planejamento financeiro teve papel fundamental. Foi criado um Comitê Administrativo e de Operações, formado pelos já citados ex-alunos Eduardo Costa e Ernesto Yamashiro, além de José Luis de Oliveira, também do curso de Administração. O grupo passou a se reunir mensalmente, definindo o valor de cotas a serem pagas pelos participantes. Paralelamente, foi-se em busca de parceiros e patrocinadores para custear despesas operacionais, como uniformes e equipamentos. Empresas como Nestlé (Bliss), Diário do Grande ABC, Japantur, Adidas e Uniformes Vadinho apoiaram o projeto.


 Definição do elenco

No que diz respeito à definição do elenco, mais até do que os aspectos financeiros, as questões técnicas e físicas foram preponderantes. Os estudantes passaram por treinos intensos e processo seletivo rigoroso. Dos 27 jogadores iniciais da equipe era preciso selecionar 20 para a lista final (a delegação foi composta por 20 atletas e 5 membros da Comissão Técnica). O professor Emédio Bonjardim, técnico do time, enfatiza essa preparação: “Foram de 6 a 7 meses de treinamento. Todos estavam cientes de que, se não cumprissem os critérios, estariam fora do projeto”, afirma, informando que todos os treinos eram monitorados para a criação de uma base de dados e definição de objetivos técnicos e físicos individuais.

Marcos Cardoso, também ex-aluno de Administração, lembra as primeiras partidas. “Começamos com 4 derrotas, mas depois o time se encontrou e conseguimos 1 empate e 5 vitórias nas demais partidas”. Além dos jogos em si, o fator extracampo também segue vivo em sua memória: “Participamos de uma série de eventos, como visitas à cidade de Hiroshima e à fábrica da Mitsubishi, entre outras. Éramos recebidos por autoridades locais, onde nos sentíamos como celebridades, chegando até a dar autógrafos nas ruas”, afirma.

O projeto, de fato, assumiu um caráter institucional mais amplo, ao envolver o Departamento de Esportes e Turismo da Prefeitura de São Caetano do Sul, representado pelo seu então diretor Charly Farid Cury que também integrou a delegação, assim como o Diretor Geral do IMES, prof. Marco Antonio Santos Silva. Com a ajuda dos pais de Shiro, foi organizada uma agenda que, além do intercâmbio esportivo, como lembrou Marcos Cardoso acima, incluiu uma extensa programação voltada ao intercâmbio cultural, com visitas a entidades públicas e privadas japonesas, além de atividades turísticas, ampliando o alcance e o significado da experiência.

Confira os resultados dos jogos:

IMES X Funcionários da fábrica de Mitsubishi
DataPlacar
21/Julho/19950x2
IMES X Seleção de Okayama
DatasPlacar
22/Julho/19951×4
23/Julho/19950x3
IMES X Cosmo Oil Yokkaichi FC
DataPlacar
25/Julho/19950x6
IMES X Seleção de Mie-Ken
DataPlacar
28/Julho/19952×1
IMES X Seleção de Yokkaichi
DataPlacar
30/Julho/19951×1
IMES X Seleção de Naha
DataPlacar
02/Agosto/19952×0
06/Agosto/19951×0
IMES X Universidade Meio
DataPlacar
7/Agosto/19954×1
IMES X Seleção de Nago
DataPlacar
08/Agosto/19952×0

Depoimento de uma estudante: resgatando a memória

No momento, o Centro de Documentação e Memória da USCS prepara uma exposição, que deverá ficar aberta à visitação a partir de fevereiro de 2026. Como estudante do 4º semestre de Jornalismo, eu, Yasmin Beatriz, participei diretamente do desenvolvimento do projeto, atuando na pesquisa, organização de materiais e construção das narrativas que compõem a exposição. Meu envolvimento permitiu acompanhar de perto o resgate dessa memória institucional, transformando relatos, documentos e entrevistas em conteúdo jornalístico acessível ao público. A experiência reforçou, na prática, o papel do jornalismo na preservação da história e na valorização da memória coletiva da Universidade.

Organizada a partir da reunião de documentos, fotografias, depoimentos e entrevista, a exposição apresentará ao público os bastidores dessa viagem e o impacto que ela teve na vida acadêmica, pessoal e profissional dos participantes. Mais do que relembrar um intercâmbio internacional, a iniciativa busca valorizar a memória institucional da USCS e aproximar as novas gerações de um capítulo que ajudou a construir a identidade da universidade.

Ouvir essas memórias de perto – frente a frente de pessoas que, em 1995, tinham a minha idade quando embarcaram em uma aventura totalmente improvável – tem sido uma das experiências que mais me marcou como estudante de jornalismo.

Entre os depoentes, está Charly Farid Cury, que na época era Diretor de Esportes e Turismo da cidade e acompanhou a delegação como parte da comissão técnica. Conversar com ele é como abrir um livro vivo: entre histórias de infância no interior paulista, do futebol no Corinthians e da trajetória profissional, que o levou ao poder público, Charly fala do Japão com um brilho de quem sabe que participou de algo maior do que imaginava. Ele lembra com carinho das semanas intensas ao lado dos estudantes, das reuniões, dos jogos sob sol de 40ºC e das cerimônias que receberam o grupo como se fossem atletas profissionais.

Também ouvimos Marcos Cardoso, ex-aluno que sempre descreve a USCS como um ponto de virada na vida. Filho único, vindo de uma família trabalhadora do ABC, Marcos fala da viagem como a primeira grande experiência internacional, algo que ampliou fronteiras pessoais e profissionais. Entre um relato e outro sobre a rotina de treinos, ele conta das amizades construídas no campus, das brincadeiras de infância em São Caetano e do quanto aquele mês no Japão marcou sua juventude.

Ao mergulhar nesses relatos, fiquei com a sensação de que esse novo projeto não é apenas uma comemoração ou uma exposição — é uma forma de reconectar a USCS com a força de suas próprias memórias. A viagem ao Japão de 1995 não foi só um intercâmbio esportivo: foi a prova de que estudantes, quando acreditam no que estão construindo, conseguem romper barreiras econômicas, culturais e geográficas. Foi também um marco para a cidade, para a universidade e para cada família envolvida.

Agora, enquanto levantamos documentos, digitalizamos fotografias, entrevistamos participantes e reorganizamos todos os detalhes para que a nova edição ocorra em 2026, percebo que há algo muito especial acontecendo: não estamos apenas registrando histórias — estamos vivendo uma nova. Se em 1995 um grupo de jovens ousou atravessar o mundo para representar o IMES, em 2026 novos estudantes poderão repetir esse caminho, mas agora levando consigo não só as malas, e sim as memórias de quem abriu a trilha lá atrás. Eu, como estudante e participante da construção desse projeto, me sinto parte dessa ponte entre passado e futuro. E talvez esse seja o maior valor de tudo isso: perceber que a história não está distante — ela se movimenta, fala, respira e continua viva dentro da USCS.