Pesquisadores da USCS inauguram exposição sobre resiliência comunitária na Colômbia

Por Samuel Carvalho

No dia 09 de abril de 2025, foi inaugurada a exposição “Raíces y Resistencias: la resiliencia del paisaje latinoamericano”, com curadoria dos professores-pesquisadores Lucas Almeida, Flavio Lima e Giovanna Fortunato, representantes da USCS na Universidade Metropolitana de Barranquilla, Colômbia.

A atividade é parte do marco de resultado do projeto de intercâmbio profissional “Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local”, e cumpre com o objetivo de circulação artística do resultado de oito meses de pesquisa, docência e extensão, praticados pelos professores brasileiros imersos na região do Caribe colombiano desde agosto de 2024.

Com o objetivo de construir um processo de resiliência comunitária que envolve as pessoas do entorno e criar valor social e pedagógico na divulgação de seus resultados, a exposição é composta por quatro eixos que contam processos resilientes que convergem entre si e que explicam a criação de resiliência a partir de pequenos passos.

Como surgiu a ideia da exposição e quais foram os processos para que ela se realizasse?

Flávio Lima: “A ideia da exposição “Raíces y Resistencias: la resiliencia del paisaje latinoamericano” surgiu dentro do nosso projeto Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local. Queríamos encontrar uma forma sensível e pedagógica de compartilhar os resultados das pesquisas que temos realizado na região. Acreditamos que a resiliência comunitária também se constrói a partir das histórias locais, dos vínculos do dia a dia e das relações com o território, por isso pensamos numa intervenção artística como forma de diálogo com a comunidade universitária. A exposição reúne mapas, fotos, vídeos, textos e atividades interativas, e foi pensada com muito cuidado no seu conceito curatorial. Nosso foco é mostrar como a resiliência está enraizada nos laços sociais e na identidade coletiva. Acreditamos que é nas pequenas relações do cotidiano que nasce a força para resistir e reconstruir”.

Quais são os quatro eixos e o que eles representam na exposição?

Giovanna Fortunato: “O que a gente propõe é um olhar mais profundo sobre a resiliência, queremos explorar como algo mais amplo, pensando enquanto indivíduos e sociedade. Para entender isso, organizamos a exposição em quatro eixos, que juntos mostram como a resiliência é construída em diferentes escalas, indo do macro, que é o território, até o micro, que são as conexões humanas.

Esses eixos são: Região, Comunidade, Escola e Laços. Começando por Região, a ideia é mostrar como a gente se conecta com o território, seja brasileiro, colombiano ou latino-americano, o que nos ajuda a construir uma identidade coletiva e fortalecer o tecido social. 

No eixo da Comunidade, a gente vê como o espaço onde vivemos pode tanto nos proteger em momentos difíceis quanto ser palco das nossas expressões culturais e artísticas. É nesse equilíbrio que a comunidade se fortalece.

A Escola é um agente essencial, não é só um espaço de aprendizado, mas também de transformação social. Através da educação, formamos pessoas conscientes e preparadas para lidar com os desafios do território e da sociedade.

E, por fim, temos os Laços, que são as conexões humanas que criamos no dia a dia. Mais do que colegas ou profissionais, somos pessoas com histórias, sentimentos e vivências. Fortalecer esses vínculos é fundamental para construir uma rede de apoio e resiliência”.

Quais são os próximos passos após a exposição e como vocês esperam que ela impacte a comunidade e inspire outras iniciativas de resiliência?

Lucas Almeida: “A proposta de um projeto de intervenção social sempre é criar algum conhecimento atrelado a uma comunidade e um território, de modo que este conhecimento plantado possa gerar frutos por muito tempo além da duração do projeto. Essa exposição tem como objetivo principal divulgar conhecimentos e resultados científicos de uma pesquisa complexa, que se apoia na relação interdisciplinar das ciências sociais, portanto a arte se mostra uma plataforma de conexão entre a produção intelectual, que costuma circular dentro de bolhas acadêmicas, e a sociedade cotidiana, uma vez que ela fura essas barreiras e permite algum diálogo, a partir das reflexões e experiências individuais estimuladas pelo consumo sensível da arte. A partir disso, pretendemos seguir produzindo nossa investigação e aprofundando o conhecimento sobre resiliência e sociedade, a fim de servir como ferramentas precisas e democráticas para auxiliar a tomada de decisões e a construção de uma sociedade mais equitativa, desde a intervenção acadêmica e artística, contribuindo para a formação de seres políticos”.

O projeto internacional “Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local” é uma iniciativa promovida através de uma parceria desenvolvida entre a USCS e a Universidad Metropolitana (Colômbia), que é financiada pela Agência Norueguesa para a Cooperação e Intercâmbio (NOREC). Teve seu início em agosto de 2023 e, neste momento, atuam os participantes da segunda ronda, sendo três pesquisadores brasileiros alocados em Barranquilla e dois pesquisadores colombianos alocados na USCS até o mês de julho deste ano.

Seu eixo de trabalho é a promoção de cuidados com o meio ambiente e a prevenção de riscos decorrentes das mudanças climáticas, temáticas relacionadas com as agendas globais pelo desenvolvimento sustentável, como os ODS, o Acordo de Paris e o Marco de Sendai, buscando a elaboração de um pensamento crítico e propositivo ao redor desta temática e o estímulo de capacidades de protagonismo entre os participantes das atividades relacionadas com o projeto, suas instituições e comunidades.

TRADUÇÃO CURATORIAL

Resiliência é a capacidade de seguir em frente diante de um evento adverso. Os seres humanos, animais, plantas, pedras, rochas, metais e todas as estruturas do planeta desenvolveram suas próprias ferramentas de resiliência para continuar existindo, mesmo com os desafios ao longo de sua jornada por este universo.

Nossa capacidade de criar laços sociais, vínculos, contar histórias e compartilhar crenças é o que nos permitiu prosperar como espécie. A socialização, que nos prepara para manter relações interpessoais, as redes de apoio, que nos auxiliam nos desafios individuais de nosso caminho, e a identidade, que forma o sentimento de pertencimento, são as ferramentas que temos para criar resiliência.

A paisagem, esse cenário da vida cotidiana, é um produto das dinâmicas sociais que ali acontecem. As pessoas têm com o território uma conexão além da mera ocupação; criamos raízes que definem quem somos e nossa forma de ver o mundo a partir de nossas pertenças, nossas redes, nossa cultura, ou seja, nossa identidade.

Dessa forma, explorar a capacidade de um território gerar resiliência resulta em explorar a associação de grupos de pessoas desconhecidas, a partir das dificuldades, com o intuito de resolver problemas conjuntos. São esses rostos do dia a dia, que existem em nossa visão periférica, os que possuem a capacidade de se unir a nós no momento em que a resiliência se faz necessária.

Não celebramos nossos fracassos como sociedade. Não há honra em ter criado desigualdades, em ter deixado uma marca de destruição no planeta, em ter conduzido experiências sociais violentas, como guerras e ideologias extremistas. O mundo que criamos como sociedade é de responsabilidade coletiva e, embora tenhamos dificuldade de assumir problemas universais, somos nós os únicos que podemos guiar o rumo de nossa trajetória.

Enquanto houver o mal, todos os seres humanos terão a responsabilidade compartilhada por sua existência, no entanto, nos contaminamos com a esperança de boas ações, que não servem apenas para nos ajudar a prosperar, mas também como o combustível de humanidade necessário para tecer os laços da resiliência.