Participantes dos projetos internacionais da USCS estiveram na COP30
Samuel Carvalho
Os integrantes dos projetos “Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local” e “RAÍS” (Rede Amazônica de Iniciativas Sociobioeconômicas) participaram da COP30, realizada em Belém do Pará, em novembro. A presença dos intercambistas teve como objetivo representar os projetos de intercâmbio profissional da USCS, dar visibilidade a iniciativas latino-americanas voltadas à resiliência climática e integrar fóruns, painéis e atividades técnicas sobre adaptação, educação ambiental e participação comunitária.
Ambas as iniciativas compartilham o compromisso com a construção de soluções sustentáveis, inclusivas e contextualizadas territorialmente, princípios que dialogam diretamente com os temas centrais debatidos na conferência.
A questão do do equilíbrio do clima é o grande desafio global deste momento histórico, estar na COP demonstra que a USCS, através dos seus projetos e pesquisas, está comprometida com um mundo sustentável. Daniel Vaz, Coordenador dos projetos de intercâmbio profissional da USCS.
Daniel Vaz palestrando no Fórum Amazônia Global: Diálogos Universitários para a COP 30, evento promovido pela UEPA (Universidade do Estado do Pará)
Projeto RAÍS: conexões para fortalecer a bioeconomia e a inclusão produtiva
Representado por Juan Felipe Rozo e Carlos Andrés Ferreira, do Núcleo São Paulo, o Projeto RAÍS teve como foco estabelecer conexões estratégicas, identificar iniciativas alinhadas aos seus eixos temáticos e ampliar o networking com empreendedores, organizações sociais e potenciais parceiros. A participação possibilitou diálogos com instituições que atuam com bioeconomia, economia solidária e economia do cuidado, além de apresentar modelos de negócios e tecnologias que fortalecem comunidades amazônicas e impulsionam cadeias sustentáveis.
Na COP foi possível conhecer de perto os diferentes projetos que visam desenvolver as populações locais e contribuir para a preservação da Amazônia. Dentre as interações estabelecidas, a valorização dos produtos da sociobiodiversidade se destacou como um tópico de grande relevância. Empreendimentos de povos indígenas e associações de produtores, como a ASSOBIO e a Amazonbai, estão investindo na agregação de valor às matérias-primas da floresta e da agricultura familiar. Isso é feito através da transformação em produtos agroalimentares (como doces, geleias e liofilizados) e na fabricação de cosméticos e medicinais por meio da extração de extratos naturais (açaí, cupuaçu, andiroba, etc.). A importância disso não reside apenas na transformação em si, mas na criação de novas estratégias para que esses produtos sejam comercializados via canais digitais, dinamizando a economia local e gerando rendas mais justas. Experiências como ASSOBIO e Amazonbai, constituem-se como modelos de sucesso que promovem o posicionamento de produtos da bioeconomia no mercado, sob critérios de preços justos e produção limpa. Outra conexão de fundamental importância foi o conhecimento sobre os modelos financeiros dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) . O conceito de moeda social despertou grande interesse devido ao seu potencial de desenvolvimento em Paranapiacaba, região do ABC Paulista, como um modelo de desenvolvimento econômico local. Esta estratégia, baseada no cooperativismo e na autogestão, se alinha ao objetivo de fomentar um turismo comunitário, garantindo que os empreendimentos locais possam ter acesso a fundos que sustentem a economia da vila. Carlos Andrés Ferreira, participante do projeto RAÍS.
Carlos entrevistando expositora durante a COP30
Produtos da Bioeconomia amazônica.
Palestra expositiva Amazonbai.
Tais conexões estabelecem as bases para o avanço das atividades estruturantes do Projeto RAÍS, impulsionando o fomento a novos empreendimentos, a expansão das redes de comercialização e a articulação de parcerias institucionais que potencializam soluções inovadoras, fortalecem economias locais e contribuem para o desenvolvimento sustentável das comunidades envolvidas.
Resiliência cultural como caminho para adaptação climática
Durante o evento Belém+10, realizado na Zona Verde da COP30, o projeto “Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local” apresentou a palestra “Tecendo resiliência entre culturas”, conduzida pelas intercambistas Daniela Cerra, Andrea Granada e Paula Pulido. A apresentação destacou o trabalho desenvolvido junto à UNISÊNIOR, Universidade Aberta da Terceira Idade da USCS, reforçando como narrativas de memória, práticas comunitárias e expressões culturais fortalecem a resiliência diante dos desafios climáticos.
A cultura e a memória são centrais para a construção da resiliência comunitária porque funcionam como pilares de identidade e coesão social, especialmente em situações de crises naturais, rupturas sociais, entre outras. São esses elementos que ajudam as pessoas a se reorganizar, encontrar sentido e reconstruir suas vidas coletivamente. Daniela Cerra, participante do projeto Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local.
Daniela apresentando a palestra “Tecendo resiliência entre culturas”.
A participação na conferência também gerou novos aprendizados e inspirações metodológicas para o projeto, incluindo práticas intergeracionais, atividades de memória e ações colaborativas.
Gostei muito de perceber como eles destacaram que as soluções climáticas devem ser construídas a partir das realidades locais, reconhecendo as desigualdades que tornam certas populações mais vulneráveis, pois isso reforça a necessidade de incorporar metodologias participativas onde as comunidades sejam ouvidas a partir de suas experiências e percepções. Também observei algumas iniciativas e palestras desenvolvidas a partir da criatividade, promovendo a implementação de metodologias inovadoras e atraentes. Por outro lado, como psicóloga, chamou minha atenção como algumas entidades envolvidas nisso reforçaram a ideia de trabalhar no planejamento e na comunicação dos riscos que as mudanças climáticas trazem consigo, pois é importante não apenas reagir aos desastres, mas também realizar uma preparação emocional e comunitária para cenários climáticos futuros. Andrea Granada, participante do projeto Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local.
Andrea na entrada da Zona Verde da COP30.
Educação climática e justiça ambiental como prioridades globais
A COP30 reforçou a urgência de incluir comunidades historicamente vulnerabilizadas no centro das decisões climáticas, promovendo justiça social e ambiental. Também reafirmou o papel estratégico da educação e do conhecimento climático, a chamada “educação verde”, para preparar jovens e comunidades para enfrentar os impactos que já estão em curso.
As mensagens da COP30 que mais dialogam com a realidade latino-americana são aquelas que reconhecem que a região enfrenta simultaneamente vulnerabilidade climática, desigualdade social e dependência de economias extrativas, mas que reconhecem as comunidades como protagonistas das mudanças. As mensagens enfatizam a urgência de transitar para modelos que integrem sustentabilidade, inclusão e cuidado comunitário, não apenas como metas ambientais, mas como estratégias de desenvolvimento. Isso se conecta diretamente com os projetos de intercâmbio profissional da USCS, que trabalham resiliência climática, economia sustentável e economia do cuidado como eixos que permitem repensar o território a partir de lógicas colaborativas. Ao integrar pesquisa aplicada, práticas comunitárias e formação intercultural, esses projetos não apenas respondem aos desafios apontados na COP30, mas também ajudam a construir capacidades regionais para transformações estruturais de longo prazo. Paula Pulido, participante do projeto Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local.
Paula apresentando a palestra “Tecendo resiliência entre culturas”.Participantes da palestra “Tecendo resiliência entre culturas” com seus leques em forma de folha construídos com papel reciclado durante a atividade.
Essas reflexões reafirmam a relevância e o alinhamento dos projetos internacionais da USCS com os chamados globais apresentados na conferência, fortalecendo ainda mais o compromisso institucional com a sustentabilidade, a educação e o desenvolvimento local.
*Texto construído com a colaboração de todos os participantes.